Sunday, March 21, 2010

N/M BENGUELA (1946-1978)


O primeiro navio adquirido ao abrigo do Despacho 100 foi o BENGUELA, comprado na Suécia pela Companhia Colonial de Navegação.
Navegou durante mais de 30 anos provando ser um excelente navio, robusto e económico, apesar de nos primeiros tempos ser considerado frágil pelo armador, por falta de confiança na sua construção totalmente soldada, a tal ponto que havia instruções para não carregar carga no convés. Em termos físicos apresentava linhas escandinavas, numa época em que o aspecto exterior dos navios e respectivos arranjos estéticos denunciavam a sua nacionalidade.
Foi o primeiro navio novo a integrar a frota da Companhia Colonial e o primeiro navio português com casco totalmente soldado. Acabou sendo um navio feliz, sem grande história para além de três décadas de serviços úteis. A seguir apresenta-se a sua história e características principais.

BENGUELA (1946-1978)
Características principais: navio de carga e passageiros a motor, construído de aço, em 1946. Nº oficial: G 480; Indicativo de chamada: CSJR. Arqueação bruta: 5.094 toneladas; Arqueação líquida: 2.965 toneladas; Porte bruto: 9.347 toneladas; Deslocamento máximo: 12.500 toneladas; Deslocamento leve: 3.153 toneladas. Capacidade de carga: 4 porões servidos por 5 escotilhas, com 16.024 m3. Comprimento ff: 131,60 m; Comprimento pp: 124,04 m; Boca: 17,25 m; Pontal: 8,76 m; Calado: 7,83 m. Máquina: 1 motor diesel de 6 cilindros a 2 tempos Burmeister & Wain, modelo 674VTF, número 363, com 5.400 bhp a 105 rpm; 1 hélice de 4 pás. Velocidade: 13 nós (15.45 nós vel. máx.). Passageiros: 12 em 8 camarotes. Tripulantes: 31. Custo: 5 milhões de coroas suecas, equivalente a 34.740.000$00

História: Construído em Gotemburgo, Suécia, por Eriksbergs Mekaniska Verkstad A. B. (construção nº. 337), por encomenda da companhia Rederi AB Wallenco (Walleniusrederierna), lançado à água a 4-04-1946 e entregue em 08-1946 com o nome BENGUELA na sequência de um contrato de fretamento em casco nú à Companhia Colonial de Navegação (CCN). O navio acabou por ser vendido à CCN no dia 13-08-1946, data da escritura lavrada em Estocolmo, e embandeirado a 28-08-1946 em Gotemburgo, largando a 29-08 para Lisboa onde entrou a 4-09, comandado pelo capitão Mário Simões da Maia, sendo o primeiro navio adquirido ao abrigo do plano de renovação da marinha de comércio portuguesa estabelecido em 10-08-1945.
Apresentava então casco verde acinzentado com linha de água verde-escura, mastros amarelos, chaminé desta mesma cor com duas riscas verdes, uma lista branca entre aquelas e super-estruturas brancas.
A 21-09 o BENGUELA recebeu a visita oficial dos Ministros da Marinha e da Guerra e demais entidades oficiais, no dia seguinte foi apresentado aos funcionários da CCN, que visitaram o navio em número de 600 e a 23-09 foi visitado por carregadores e clientes da Colonial. Foi registado em Lisboa a 24-09-1946, de onde largou na viagem inaugural a 26-09-1946 pelas 19h00, com 8 passageiros e carga geral, para Leixões, S. Tomé, Luanda, Benguela, Lobito, Moçamedes, Cape Town, Lourenço Marques, Beira, Moçambique e Porto Amélia, regressando a Lisboa a 19-12-1946, via Lourenço Marques, Lobito, Luanda e Casablanca. Na terceira viagem, foi aos Estados Unidos de 6-05 a 19-07-1947 com escalas em Baltimore e Galveston.
Serviu principalmente nas carreiras de África prolongando algumas viagens ao Norte da Europa ou ao Mediterrâneo. Em 4-02-1974 foi transferido para a CTM – Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos devido à fusão da Companhia Colonial de Navegação com a Empresa Insulana de Navegação, sendo-lhe então atribuído o valor de 34.740 contos. Registado na capitania do porto de Lisboa como propriedade da CTM a 12-07-1974, passou a ter o Nº oficial I 472. Em 1975 recebeu as cores novas da CTM, o casco azul-escuro e a chaminé vermelha com duas riscas azuis e uma lista amarela entre aquelas, perdendo parte da graciosidade original.
Nas duas últimas viagens transportou carga para a Madeira e Açores, após o que ficou imobilizado em Lisboa desde 30-07-1977 até ser vendido a 29-08-1978 ao sucateiro Baptista & Irmãos, Lda., para demolição em Alhos Vedros. Registado na capitania de Lisboa a 25-10-1978 a favor de Baptista & Irmãos para efeito de “propriedade e posterior demolição”. Nº oficial: I 494. Registo final cancelado a 5-05-1981 por ter sido concluída a sua demolição no estaleiro novo de Alhos Vedros, Moita do Ribatejo, no dia 30-11-1980.
 
Foto 1: Navio-motor BENGUELA de 1946 com as cores da Companhia Colonial
Foto 2: BENGUELA fundeado no Tejo em 1977 depois de concluir a última viagem

1 comment:

Rui Amaro said...

Estou-me a recordar que o BENGUELA aquando da sua viagem inaugural e primeira escala em Leixões, deslocou-se propositadamente à Povoa de Varzim, onde fundeou junto do seu porto, a fim de tomar parte, julgo que num festival náutico, regressando a Leixões terminado o evento.
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro